Esconde-Esconde (Parte 4)

Esconde - Esconde

Stella e Jason, que já eram conhecidos por André foram até a loja ao encontro dele. Os investigadores que permaneceram na delegacia ficaram responsáveis por, ao receberem os telefones encontrados por Jason e Stella, ligar para cada família.

O gerente, não estava tão bem vestido como da última vez que eles o encontraram. Dava para perceber que ele havia colocado a calça jeans e um casaco de moletom por cima do pijama que usava. Porém, devido à urgência da investigação isso foi melhor do que se ele os tivesse recebido usando seu costumeiro terno e gravata.

Rapidamente o homem encontrou as notas fiscais emitidas pelos caixas naquele dia cujas vendas tinham sido efetuadas por Edward. Por sorte, era política interna da loja, armazenar por um período de 30 dias o nome e telefone de cada comprador junto às notas fiscais, para eventuais reclamações.

Jason e Stella dividiram o monte de papeis em 2 pilhas e ligaram de volta para delegacia. Enquanto iam passando os nomes e telefones para Sara e Samara respectivamente, elas iam anotando os números em pedaços de papel e passando para cada policial já começar a ligar.

Terminada a pilha, Jason e Stella agradecerem ao gerente e tomaram o caminho de volta para delegacia. Estavam no meio do caminho quando o celular de Stella tocou. Ela atendeu colocando em viva-voz.

— Fala Renato — ela disse — o Jason também está ouvindo.

— Onde vocês estão? — ele perguntou em inglês para que o investigador também pudesse entender.

— Na Avenida Rio branco, perto da Catedral.

— Melhor vocês contornarem então. Descobrimos um menino que comprou um patinete e ainda não voltou pra casa. Ele tinha ido ao parque do museu andar nele.

Ao chegar a uma parte da avenida onde havia um espaço entre os altos canteiros que separavam as pistas de ônibus, das de mão e contramão de carro, Stella virou o volante bruscamente e entrou na pista que ia à direção oposta passando pela pista dos ônibus.

— Desculpe ter me esquecido de avisar que eu ia fazer isso — ela disse sorrindo para Jason que se segurava no apoio de braço na porta do carona. — Mesmo sendo de madrugada eu não gosto de fazer conversões em locais proibidos, por isso acelerei, mas se fôssemos até um local adequado para fazer a conversão, perderíamos um tempo precioso.

— Sim, eu sei. Tudo bem — Jason respondeu sorrindo.

— Cuidado com essa garota Jason. O professor da autoescola onde ela tirou a habilitação nunca mais entrou em um carro para ensinar.

O investigador sorriu.

— Renato, já disse que foi coincidência ele ter se aposentado — Stella deu um sorriso meio tímido para Jason. — A gente se encontra lá — ela continuou desligando o telefone.

Com as ruas vazias, logo eles chegaram ao museu. Stella estacionou o carro e se apressou, junto com Jason, para ir falar com um vigia que estava ao lado do portão principal.

— Boa noite. Nós somos investigadores da polícia civil e estamos procurando por um menino que desapareceu esta tarde. Segundo testemunhas esse foi o último lugar em que ele foi visto — Stella informou ao homem.

— Bom, mesmo que este menino de quem vocês estão falando tenha estado aqui, não está mais. Estão vendo a catraca? — ele respondeu apontando para o objeto comumente encontrado em ônibus — quando as pessoas entram, ela marca, quando saem, ela subtrai. Está zerada. Não há ninguém aí dentro.

Jason foi acompanhando a explicação à medida que o vigia apontava para a catraca e seu mostrador e conseguiu entender tudo sem precisar de tradução.

— Então não há nenhuma outra entrada? — Stella continuou.

— Não. Só essa.

Um carro trazendo alguns policiais civis, Gregory e Sara, estacionou na frente do museu. Todos desceram e se juntaram a Stella e Jason.

— César recebeu uma ligação do vizinho do Edward. Parece que ele voltou para casa. O Renato e a Samara foram com ele.

— Bom, talvez precisemos de reforços. Nós sete levaremos horas para encontrar o menino caso ele esteja aqui no parque — disse Stella — Senhor, nós podemos entrar? — ela perguntou ao porteiro.

— Não vou impedir, mas não vão encontrar ninguém aí.

— Obrigado — ela respondeu entrando no parque e sendo seguida pelos outros até uma clareira em frente ao portão.

— Vamos nos dividir em pares, — propôs um dos policiais. — O nome do menino é Luiz. Segundo a mãe, ele usava uma camiseta branca com uma foto do Homem—Aranha e uma bermuda azul—marinho. Ele tem cerca de 1m de altura e cabelos castanhos. Quando o policial terminou, Stella traduziu o que foi dito para os investigadores de Las Vegas.

Após ouvir esta pequena descrição dada pelos policiais, as duplas se espalharam pelo parque. O policial que dera as informações, porém ficou no mesmo lugar esperando por outros oficiais que ele chamara para auxiliar nas buscas.

Não muito longe dali César, Renato e Samara chegara à casa de Edward no momento em que ele saia da garagem em seu carro cantando pneus. Renato que estava dirigindo não pensou duas vezes e se pôs a segui-lo. Pelo rádio do carro, César comunicou a situação ao departamento de polícia e solicitou alguns policiais para ficar de vigília na casa. Ele também pediu para que a polícia rodoviária ficasse atenta, e lhes passou a descrição e o número da placa do carro de Edward. César ligou o giroflex, e em alta velocidade os dois carros seguiam em perseguição pelas ruas e avenidas desertas de Juiz de Fora. Pelo caminho que iam fazendo, logo eles perceberam que a intenção de Edward era sair da cidade, por isso, César comunicou a trajetória aos policiais pelo rádio.

— Vai haver uma barreira preparada para ele e vocês vão contar com o apoio de um helicóptero que está saindo neste momento do aeroporto da Serrinha e logo estará sobrevoando os carros de vocês — disse o policial que falava com ele.

— É, parece que o governo não está poupando gastos. Pena que ele não dê essa atenção para todas as vítimas de criminosos nesse país — lamentou Renato quando César colocou o rádio de volta ao painel do veículo.

— Cuidado! — Samara gritou ao ver que eles passavam perto demais de um poste ao fazerem uma curva fechada.

Edward se dirigiu para uma subida íngreme e de curvas sinuosas. Os dois carros cantavam pneu a cada curva. Ao terminarem de subir puderam avistar o helicóptero saindo por trás de alguns morros.

— César. Câmbio — falou alguém ao rádio.

— Na escuta! Câmbio.

— Eu sou o comandante Paulo e estou tendo visão do carro do suspeito. Não perderei vocês de vista e os acompanharei até a barreira preparada perto do posto policial que fica na direção em que vocês estão indo. Não há como ele se desviar desse caminho.

— Você vê alguma coisa no carro que levante suspeita?

— Há um volume no banco de trás, mas não temos como saber o que é, pois há um cobertor por cima. Câmbio.

— Obrigado comandante. Seguiremos até a barreira. Câmbio.

À medida que iam chegando mais perto do posto da polícia, a tensão ia aumentando, pois eles não sabiam qual seria a reação de Edward, nem se ele estava armado.

— Há viaturas impedindo a passagem! Pare o carro! — gritou o copiloto através de um megafone.

Vendo que não havia como escapar, Edward começou a reduzir a velocidade até parar. Renato parou a uma distância segura e César saiu do carro com sua arma e punho.

— Desça do carro com as mãos na cabeça — ele gritou.

— Calma, deve estar havendo um mal entendida — ele disse enquanto descia — um dos policiais que estavam parados com seus carros bloqueando a estrada se aproximou de Edward e o revistou.

— Está limpo! — ele disse ao terminar.

— Ah, então você fala. O seu patrão e os investigadores que conversaram com você mais cedo te acharam um pouco mais calado.

O homem empalideceu. Samara e Renato se dirigiram para perto do carro a fim de verem o que havia sob o cobertor. Depois de calçar as luvas, eles abriram a porta.

— Esse patinete é seu? — Samara perguntou apontando para o brinquedo.

— Ah, é por isso que estão vindo atrás de mim? Seu André acha que eu estar roubando a loja.

— É isso que você está fazendo?

— Não. Eu vou falar para ele descontar do meu pagamento.

— Você vai nos acompanhar até a delegacia para explicar isso direitinho — interrompeu César.

— Eu estar preso?

— Não. Só quero conversar um pouco.

— E não vai demorar? É que eu estava indo pegar um avião. É aniversário do eu sobrinho. É para ele a patinete. Por isso eu estava correndo.

— Não há aeroporto para esse lado.

— Como não? Eu encontrei marcado aqui nesta mapa — disse Edward tirando o papel do bolso e entregando a César.

— Ah, o aeroporto de Goianá — ele disse — sim, mas não tem avião levantando voo lá agora. Posso te garantir! — César dobrou o mapa e devolveu a ele — vamos? — ele perguntou indicando o seu carro — o seu carro será levado para a delegacia, e se o senhor não se importar gostaríamos de dar uma olhada nele enquanto conversamos.

— Não vejo problema.

— Samara e Renato, esperem o reboque que vai vir buscar o carro. Ao chegarem ao distrito iniciem a perícia — César concluiu — nos vemos mais tarde então — ele disse se virando e indo para seu carro.

(...)
Depois de andar por diversas áreas do parque chamando por Luiz sem obter resposta, todos já estavam muito cansados. O reforço que havia chegado era de apenas cinco policiais, o que estava longe do ideal dado o tamanho enorme do parque.

— Gregory — disse Stella segurando o investigador pelo braço — sangue — ela apontou pata uma mancha com o diâmetro de aproximadamente 5 cm que estava no chão — acho melhor fotografar e recolher uma amostra. Pode não ser do Luiz, mas pode ser.

Gregory concordou com um aceno de cabeça, e após a investigadora tirar 3 fotos em ângulos diferentes, ele se abaixou com um swab e o esfregou na mancha.

Eles continuaram andando e entraram em uma curva fechada, quase e um ângulo reto, onde, na esquina havia uma pequena construção, que eram dois banheiros, masculino e feminino. Entre as portas dos dois, apoiado em uma parede havia uma pia fracamente iluminada por um pequeno poste que já perdera metade da sua eficiência devido aos primeiros raios de sol que surgiam no horizonte.

— Gregory, eu vou lavar meu rosto para ver se espanta o cansaço.

Ele parou a uma pequena distância para esperá-la. Stella molhou o rosto e jogou um pouco de água na nuca. Quando foi fechar a torneira, uma mosca pousou em sua mão. Em um movimento rápido ela a capturou. Tirando um pequeno frasco da bolsa que carregava, ela acondicionou o inseto.

— O que foi? — Gregory perguntou se aproximando.

— Uma mosca.

— Banheiro sujo?

— Acho que pior. É uma Calliphoridae. Elas atuam em todas as etapas da decomposição de um cadáver, e possuem os mais variados comportamentos referentes à deposição de ovos em carcaças. Tanto diurnos como noturnos. Elas podem ser usadas para o cálculo de intervalo post-montem.

Stella sugeriu que eles verificassem os banheiros, mas não encontraram nada. Havia apenas um cheiro forte de algo apodrecendo.

Passando entre a pequena construção, e o muro que limitava o parque eles encontraram a origem do cheiro e das moscas.

— Luiz, ... — Ela disse ao ver o menino deitado sobre uma poça de sangue. Gregory vinha logo atrás dela e também ficou parado diante da cena. Stella retirou uma câmera fotográfica da bolsa e começou a registrar a cena. Assim como Mauricio, a cabeça de Luiz estava quase separada do corpo. Atraídos pelos flashes da câmera, Jason e Sara, que não estavam longe dali, encontraram a cena.

— Droga! — Sara disse ao ver o menino morto. Stella se assustou e parou de tirar as fotos.

— Vão chamar os policiais. Precisamos isolar a área e chamar o legista — Jason disse a Sara e Gregory.

— Ela coletou uma mosca — Gregory disse enquanto deixavam o local.

Jason se aproximou dela — Posso ver?

Ela retirou o frasco do bolso e entregou a ele.

Calliphoridae. Interessante. Termine de tirar as fotos e guarde nosso amiguinho. Espero que ele já tenha feito seu trabalho, será de grande ajuda.

Stella se virou de frente para Jason e duas lágrimas rolaram pelo seu rosto. Ela as enxugou na manga do casaco e apanhou o frasco para guardar.

— Não é nossa culpa — Jason disse percebendo que ela estava sensivelmente abalada.

— Não acontece muito disso aqui, normalmente o que a gente investiga são roubos ou outros delitos leves — ela abanou a cabeça — nós conversamos com ele...

— E nos pareceu uma pessoa inocente com um bom álibi. Não fique se culpando. Eu também não queria ter encontrado ele assim — Jason pegou a câmera das mãos dela — termino isso pra você.

Stella se afastou um pouco para dar mais espaço a Jason. O sol subia cada vez mais no horizonte e à medida que iluminava a parede dos fundos do banheiro revelava uma mancha de forma estranha. A investigadora se aproximou para vê-la melhor e percebeu que se tratava da mancha deixada por uma mão toda ensanguentada.

— Jason, — ela chamou — essa digital é grande demais para ser da vítima. Acho que o pegamos.

(...)
A sala de interrogatório para onde levaram Edward era a mesma onde Samara tinha conversado com dois meninos.

— Então Edward. Conte-nos. Aonde você ia com tanta pressa? — César perguntou que estava com o empregado da loja de brinquedos na sala. Além dos dois havia ali também um policial militar.

— Eu já disse. Estava indo para o aeroporto levar uma presente...

— Chega Edward — César apoiou suas duas mãos sobre a mesa — nós encontramos essa arma na sua casa e sabe o que mais? Nela estão faltando duas balas as quais foram encontradas em um cadáver em Las Vegas e só suas digitais estão nessa arma. O que você ainda não me disse?

— Quero um advogado.

— Você terá um advogado o mais rápido possível. Mas terá que esperar por ele aqui na delegacia — dito isso, César saiu da sala — ele pediu um advogado. Temos que esperar — ele disse em inglês já que além de Samara, Renato e Stella também estavam ali Sara, Gregory e Jason.

— Espera, ele disse que queria um advogado? Ele pode falar?

— Sim, Stella. Aparentemente a sua mudez fazia parte do disfarce.

— Ele confessou alguma coisa?

— Não Samara. Assim que eu falei sobre a arma ele pediu o advogado.

— Isso não é bom. Esse crime não foi cometido no Brasil. Vamos ter que pedir a extradição dele — afirmou Jason.

— E os crimes que ele cometeu aqui? — Samara perguntou.

— Bom, apesar de ele ter perdido o seu álibi, ainda não temos como provar que ele esteve nas cenas dos crimes — Stella respondeu.

— Vocês disseram que periciaram o carro. E que encontraram um patinete dentro dele? — Jason perguntou.

— Sim. E as coisas ainda estão aqui. O Edward deixou que fosse feita a revista sem termos um mandato. — Samara respondeu.

— Eu quero ver o carro e o patinete — pediu o investigador.

— Eu vou ver se consigo localizar um advogado para o Edward, ele não deve ter ninguém que possa fazer isso por ele aqui no Brasil. Mas vou perguntar pra ele antes pra poder ter certeza.

— Nós vamos para a garagem então — Jason afirmou — Sara e Gregory, nós encontramos uma mancha de sangue na parede e conseguimos fotografar uma digital identificável nela. O sangue dela pode ser do Luiz, mas só o DNA vai poder nos confirmar isso.

— Imprimir a foto e comparar com as de Edward — Sara continuou pegando o cartão de memória da máquina que Stella lhe passava.

— Sim. Você e o Gregory depois nos encontrem na frente da sala de interrogatório.

Sara e Gregory concordaram com um aceno de cabeça e entraram na sala aonde eles vinham processando evidências nos últimos dias. Stella, Samara, Jason e Renato seguiram pelo corredor até uma porta que levava a um pequeno galpão coberto onde estava o carro de Edward.

Quatro duplas de lâmpadas florescentes iluminavam o lugar. Havia um grande portão na parede oposta à porta. Nas paredes paralelas à esquerda e direita deles, havia uma bancada em cada uma com vários instrumentos que lembrava uma oficina mecânica, dividindo espaço com alguns instrumentos como lupas, caixas com luvas, pinças estiletes, tesouras e alguns produtos químicos.

— Nós processamos o carro e o patinete e não encontramos nada — disse Renato.

— Vocês coletaram digitais no patinete? — Jason perguntou.

— Não Jason. Na verdade, nem procuramos. Ele deve estar lotado de digitais. Veio da loja de brinquedos.

Stella observava a expressão de espanto de Jason — a investigadora pegou algumas luvas na bancada. Samara e Renato já estavam de luvas e Jason, por último pegou um para si.

— Mas havia um pouquinho de sangue nele e nós coletamos — disse Samara.

— Se confirmarmos que o brinquedo estava lacrado em uma caixa quando saiu da loja podemos provar que Edward teve contato com ele depois de tê-lo vendido — disse Stella pegando um pote com um pó fino e um pincel embaixo da bancada. O patinete estava no chão próximo ao carro e espalhando o pó sobre o brinquedo, a investigadora encontrou umas 10 impressões completas ou identificáveis. Após terminar, Jason pegou o brinquedo. Ouviu—se um barulho estridente como se algo tivesse caído.

— As digitais do carro vocês recolheram né? — Stella perguntou.

— Claro. Todas do Edward. O carro está limpo até onde pudemos ver. Não há vestígios de cabelo ou qualquer outro material — Samara respondeu. — Achamos uma peruca no porta-luvas.

— Ele tinha cabelo preso em um rabo de cavalo quando nós conversamos com ele na loja — disse Stella.

Jason sacudiu o brinquedo.

— Tão novo e já está quebrado — Renato comentou.

Jason se aproximou da bancada com o brinquedo nas mãos.

— Quebrado não — disse Stella — me passa a chave de fenda que está nesta caixa aí do seu lado, por favor, Jason? — pediu a investigadora com um sorriso discreto no rosto.

— Claro! — ele sorriu e entregou a ferramenta à investigadora.

Ela desparafusou a base do brinquedo e descobriu a origem do barulho. Uma navalha ainda suja de sangue estava escondida dentro do patinete. Samara e Renato se aproximaram muito espantados — achamos que o barulho era do brinquedo mesmo — admitiu Samara.

Stella pegou sua máquina fotográfica que carregava e começou a tirar fotos — precisamos do DNA do Edward. Olha como ficou essa foto — ela mostrou a foto na máquina aos investigadores — tem uma nuance suave entre os tons de vermelho nessa mancha. E não é raro, assassinos que utilizam armas brancas, como facas ou navalhas, se cortarem durante o crime.

— Talvez tenha mais de 2 DNA’s aí — disse Jason.

— Do garoto do primeiro caso? — Stella sugeriu.

— Ou até dos meninos que foram mortos em Las Vegas. Onde vocês analisam amostras de DNA? Continuou Jason.

— Mandamos para um laboratório credenciado — Samara respondeu — mas hoje eles não estão trabalhando.

— Vou ver o que dá pra fazer. Quem sabe aquela minha amiga aceita ajudar — disse Stella olhando para Samara e Renato — ela é a dona do laboratório, e às vezes passa uns trabalhos urgentes na frente dos exames de rotina — Stella explicou a Jason.

— Perfeito. Só a navalha encontrada no carro dele dentro do brinquedo e as digitais dele na parede podem ser utilizadas para convocá-lo a prestar depoimento — concluiu o investigador.

Stella pegou um pouco de pó fino e polvilhou no cabo da navalha, mas não havia nenhuma digital — Luvas? — ela sugeriu.

— Muito provavelmente — Jason respondeu.

— Mas elas com certeza não estão no carro. Nós revistamos tudo — disse Renato.

— Provavelmente ele se livrou delas no trajeto que fez do parque até em casa. Quando o vizinho ligou pra vocês ele tinha ido em casa, não é? — Jason perguntou.

— Sim — Renato respondeu.

— Eu acho que ele foi trabalhar naquele dia. Enquanto atendia as crianças encontrou uma que poderia ser sua próxima vítima, e mesmo com a polícia de olho no caso, ele saiu do trabalho, foi até onde o menino disse que estaria... — dizia Stella quando Samara interrompeu.

— Que critério será que ele usava?

— Bom isso faz parte do “porque” ... Eu estou pensando no “como” ... — Stella explicou.

— Quatro pontos cardeais de Stella... “Onde?”, “Como?”, “Quem?” e “Por quê?” — disse Renato sorrindo para a investigadora que ficou vermelha instantaneamente.

— Isso deixa meus três pontos importantes meio defasados — Jason comentou sorrindo — “Local” “Suspeito” e “Vítima”.

— Pra mim nossos pontos parecem complementares — Stella respondeu sorrindo de volta.

Jason acenou positivamente com a cabeça e pediu que ela continuasse.

— Bom, provavelmente, enquanto era atendido, o menino falou a ele que iria andar com o patinete no parque. Edwrad então pulou o muro para que sua entrada não fosse registrada pela catraca, se misturou entre as pessoas até encontrar Luiz. Passou o resto da tarde seguindo ele, e quando teve a oportunidade o levou para o local onde o encontramos e o matou.

— Bom alguém tem uma teoria — Jason disse sorrindo quando a investigadora terminou.

— Agora quero ouvir a versão das evidências. Vamos voltar pra sala de interrogatório — Stella disse.

Os quatro voltaram para frente da porta da sala de interrogatório onde encontraram Gregory e Sara.

— A digital confere com a dele — Sara disse ao ver Jason.

— Nós achamos algumas amostras para analisar. Mais digitais, amostras de sangue e essa navalha — Stella disse mostrando um saco plástico com a arma.

— Resolveram tudo! A arma do crime no carro dele com sangue.

— Tenha calma, César. Ele vai falar que não sabia dessa navalha. Ela estava escondida dentro do patinete sem nenhuma digital dele, mas...

— Mas o que Samara? — César perguntou.

— Temos várias amostras de sangue para comparar — Stella respondeu — só que temos apenas amostras do DNA das duas vítimas, mas não a dele.

— Ele vai se recusar a falar com a gente, ainda mais dar amostra do DNA dele, vamos precisar de um mandado. E isso pode demorar um pouco. O que vai atrasar ainda mais o inicio do processo dessas evidencias.

— Quando o advogado dele vai chegar? — Renato perguntou.

— Hoje à tarde — César respondeu.

— É muito tempo. Precisamos de uma amostra para ser analisada logo para que não dê tempo do advogado livrá-lo das acusações. Não há queixa sobre roubo de patinete, e quanto ao porte de arma ele vai poder sair se pagar fiança — Samara continuou.

— Você vai tentar com a Miriam no laboratório?

— Sim César — Stella respondeu — eu acho que acabo de ter uma ideia — Stella pegou um swab estéril de dentro de um dos bolsos de seu casaco, o tirou entregando para Samara segurar e entrou na sala.

— Ele não vai quere falar com você — César disse.

— Eu não preciso que ele fale — disse Stella fechando a porta da sala de interrogatório atrás dela.

O policial militar ainda estava lá acompanhando Edward. Stella parou no lado oposto da mesa onde ele estava sentado em uma cadeira. A investigadora ficou de frente para ele.

— Quando eu vou poder ir embora? — Edward perguntou.

— Olha só. Você fala! — exclamou a investigadora fingindo surpresa. Ele ficou com uma expressão de raiva no rosto — e a respeito da sua pergunta, — ela continuou, — quando você explicar o que estava fazendo com aquela pistola de uso exclusivo da polícia federal na sua casa.

— Vou ficar até o advogado chegar. Eu tenho direito!

— Sim. Claro. — A investigadora respondeu acenando positivamente com a cabeça — será que você nos cederia uma amostra do seu DNA para eventuais esclarecimentos? — Stella perguntou segurando o swab para que Edward pudesse ver.

Ele sorriu sarcasticamente — vai sonhando.

— Ok — ela abaixou a mão que segurava o swab — você aceita uma água, ou um café enquanto espera?

— E aí você pega meu DNA na borda do copo? — ele balançou a cabeça negativamente.

— Não estava pensando nisso. Você anda assistindo muita televisão — Stella sorriu para ele e continuou olhando fixamente nos olhos de Edward.

— O que foi? Está tentando ler meus pensamentos?

Stella deu um pequeno sorriso — não. Eu só queria olhar nos olhos de um homem que teve coragem de matar crianças inocentes — a expressão facial de Edward não mudou, mas Stella viu que o homem estava agora com os punhos cerrados sobre a mesa. Ela então se aproximou um pouco mais — o que aconteceu com sua marca registrada no último crime? — ela perguntou se lembrando de que quando eles revistaram a casa de Edward, tinham recolhido o rolo de fita vermelha dele — estava com pressa? Ou com medo?

Stella viu uma veia saltar na têmpora do suspeito que ao invés de dizer qualquer coisa, deu uma cusparada em direção à investigadora. Ela só teve tempo de virar o rosto evitando que os respingos lhe atingissem a face. O policial que estava na sala fez menção de defendê-la, mas ela recusou a ajuda levantando uma das mãos — deixa, está tudo bem. Acho melhor trocar essa blusa. Eu volto quando seu advogado chegar — disse a investigadora que saiu sorrindo da sala — qual tamanho de amostra vocês querem? — ela disse aos investigadores que a esperavam — ele está completamente acuado, é uma bomba relógio. Me cedeu amostras do seu DNA sem que eu precisasse pedir. Vou ligar para Miriam e guardar direto essa blusa.

— Acho que podemos passar em casa pra tomar um banho e relaxar por umas horinhas — comentou Renato.

— Sim, Vão. Já estamos com quase tudo pronto. Não precisam voltar se não quiserem — César respondeu.

— Como assim chefe? Queremos ir até o fim — disse Stella olhando para Renato e Samara esperando por apoio.

— Depois de trazer o resultado das análises o nosso trabalho acabou. Nós só temos que descobrir o “quem” e o “como”, o “porque” fica por conta do César, como sempre foi.

Stella ficou olhando para César sem saber o que dizer. Samara continuou — Tudo bem se a gente continuar dessa vez, mas vamos pelo menos tirar umas horas de descanso — ela concluiu.

— Isso vai ser bom pra vocês Stella, pode ter certeza. Eu ligo pra vocês quando o advogado dele chegar. — César sugeriu.

— Tudo bem. Vamos então — Stella concordou.

A investigadora foi até o banheiro e voltou com outra blusa, trazendo aquela suja pela saliva de Edward dentro de uma sacola de plástico. Ela pegou seu casaco de volta com Samara e tirou o celular de dentro de um dos bolsos e digitou alguns números — Miriam é uma amiga minha da faculdade. Ela e o marido são donos de um laboratório de análises clinicas. Eu trabalhei lá por um tempo até passar no concurso e vir trabalhar aqui — ela disse a Gregory, Jason e Sara enquanto juntos com Samara e Renato eles andavam pelos corredores do distrito. Quando uma voz feminina atendeu do outro lado da linha ela parou de contar sua história. Depois de uma conversa rápida, quando eles já haviam chegado ao estacionamento, ela desligou o aparelho e repassou as informações — ela aceitou fazer as analises agora, e vai chamar um dos técnicos do laboratório para ajudar. Ela está acompanhando o caso pela imprensa e quer ver logo o desfecho.

— Casos que envolvem violência contra criança realmente causam muita comoção — Renato comentou.

— A atrocidade é muito grande. São muito indefesos — Stella concordou.

Os seis ficaram um tempo em silêncio — bom, eu vou levar vocês três até o hotel e depois deixo as amostras com a Miriam.

— Nós vamos lá pra casa, esperamos por você lá — disse Samara.

— Está certo. A gente se vê mais tarde — Stella respondeu. Samara e Renato entraram em um carro e foram para casa — de carro ou a pé? — os quatro se entreolharam por alguns instantes. Stella sorriu e disse: — Ok, vamos de carro.

Em poucos instantes eles estavam em frente ao hotel — precisam de intérprete? — Stella perguntou.

— Não — Sara respondeu — obrigada. A maioria dos funcionários do hotel é bilíngue — ela concluiu enquanto descia do carro.

— A gente se vê mais tarde — disse Gregory enquanto também descia.

Jason, que estava no banco do carona permaneceu sentado — não estou muito cansado. Vou acompanhar nossa investigadora até o laboratório — ele disse a Sara e Gregory que já estavam na calçada.

Stella sorriu para os três — até mais tarde então — ela disse fazendo o carro andar vagarosamente pela rua. Em pouco tempo os dois chegaram a um prédio de dois andares onde funcionava o laboratório. Stella ficou feliz ao ver que o carro de Miriam já estava estacionado em frente ao edifício. Ela e Jason desceram do carro e entraram na clínica — Miriam — ela chamou da recepção.

O lugar estava deserto. O hall onde eles estavam era todo de mármore marfim no chão e metade da parede que tinha sua segunda metade pintada de branco assim como o teto. Havia filas de cadeiras à direita e esquerda deles e um balcão também de mármore da mesma cor do chão na frente deles. A esquerda do balcão havia uma porta por onde saiu Miriam, uma mulher de cabelos loiro—dourados cumpridos, e de aparência jovial. Depois das devidas apresentações, ela prosseguiu falando em inglês, já que também dominava esse idioma.

— O que você trouxe pra mim?

— Algumas coisinhas. Umas amostras de saliva nesta camisa pra você comparar com as manchas de sangue dessa navalha, com a amostra que está neste swab com estas que foram tiradas de mais um menino, agora a pouco. E este outro swab de uma amostra recolhida em uma parede, e este recolhido no chão perto da cena do crime e essa amostra de sangue recolhida em um patinete. E aqui tem uma amostra de sangue da vitima anterior dele. Veja se há DNA dele na arma.

— Tem como você anotar tudo o que disse? — ela perguntou sorrindo.

— Claro — Stella respondeu também sorrindo.

Miriam passou um papel e uma caneta para a investigadora — mais uma vítima — ela comentou enquanto Stella escrevia.

— É amiga. Infelizmente.

— Bom, vou fazer o mais rápido que eu puder. Como a clínica está fechada hoje todas as máquinas estarão à disposição desse caso.

— Você quer ajuda?

— Não precisa Stella, o Roberto está vindo pra cá.

— Bom, então nós já vamos. Você me liga quando tudo estiver pronto?

— Ligo sim.

Os três se despediram e Jason e Stella saíram da clínica — bom dia, Roberto — ela disse a um homem que estacionava o carro perto do meio fio.

— Bom dia — ele respondeu sorrindo e entrando rapidamente na clínica sem haver tempo para apresentações.

— Aonde vamos agora? — Jason perguntou.

— Bom, posso te levar de volta ao hotel, ou você pode ir comigo ao IML. O Túlio já deve ter começado a necropsia do Luiz.

— Opção número dois — respondeu o investigador levantando dois dedos.

Stella então dirigiu até o IML, parou o carro em frente ao prédio de três andares e os dois desceram.

— O corpo do primeiro menino assassinado está aqui?

— Ah, não Jason. A princípio nós achamos que fosse um caso isolado. Recolhemos as evidencias e o corpo foi liberado.

— Tudo bem. O laudo já foi entregue?

— Por escrito não. Mas o legista já nos passou quase tudo que estará nele.

Os dois entraram no prédio e foram direto para a sala de necropsia, onde encontraram o doutor Túlio fazendo a necropsia em Luiz. Após as apresentações ele continuou o que estava fazendo. Stella pegou um jaleco para ela e outro para Jason.

— Esse menino morreu devido a um corte profundo que partiu sua carótida em duas desencadeando a hemorragia.

— Foi uma navalha — Stella disse — tudo indica — ela continuou olhando pra Jason — Túlio, algum dos dois tinha alguma fratura óssea?

— Bom você perguntar. Antes de liberar o corpo eu tomei o cuidado de radiografa—lo, eu ia anexar os resultados junto com a conclusão do laudo — Túlio se afastou da mesa de necropsia, tirou as luvas que usava, pegou uma pasta sobre sua mesa e entregou para Stella. A investigadora colocou as chapas contra a luz.

— As da perna. Tem uma fratura post-mortem — disse Túlio.

Os dois investigadores olharam o osso fraturado de Maurício.

— Os garotos encontrados lá em Las Vegas, também tiveram membros danificados após serem mortos. Uma clavícula, de um menino que praticava natação, um pulso, de outro que praticava vôlei e a perna do último que praticava basquete. Todos post-mortem.

— Acho que teremos que tirar uma radiografia desse menino também — Túlio disse — Jason, será que pode me ajudar a colocar o corpo na maca? Hoje a gente está em esquema de plantão, estou sem meu assistente.

— Claro.

Juntos os dois homens colocaram o corpo do menino em uma maca — vou levar ele lá em baixo pra fazer as radiografias e já volto — disse o legista saindo da sala. Jason e Stella permaneceram na sala de necropsia enquanto Túlio foi até o porão do prédio.

— Quer se sentar? — a investigadora perguntou apontando para a cadeira em frente à mesa do legista.

— Não, obrigado. Fique à vontade.

— Obrigada — disse Stella virando a cadeira de frente para o investigador e sentando—se nela. — Jason, falando sobre as fraturas, me lembrei de uma coisa — o investigador cruzou os braços sobre o peito ela concluir — quando falamos com o Edward, ele mencionou que o Maurício comentou que se tornaria capitão do time de futebol porque um colega que ocupava essa posição tinha quebrado a perna. Ele deu esse detalhe sem que tivéssemos perguntado nada.

Jason descruzou os braços e disse: — Lembro agora que uma das mães, a do menino que teve a clavícula quebrada disse que o filho estava feliz porque iria entrar no lugar de outro no time que tinha quebrado o mesmo osso em um acidente de carro.

— Eu acho que Edward escolhia as vítimas que estavam felizes por causa de colegas que machucados foram impedidos, mesmo que temporariamente, de executar suas atividades normais.

— Esse seria permanente — disse Túlio entrando na sala de necropsia empurrando a maca. Aos pés do cadáver estavam as radiografias — ele levou um golpe que rompeu o ligamento das vértebras na região lombar.

— Post-mortem?

— Sim, foi. Não detectei a presença de tecido hemorrágico.

— Mas, para saber se há alguém paraplégico entre os conhecidos do Luiz, só se investigássemos toda a vida dele. Família e amigos. E estaríamos perdendo o foco principal da investigação. Talvez o próprio Edward nos diga alguma coisa — Stella ressaltou — no mais, acho que você pode encerrar com o cadáver e libera-lo. Tudo bem pra você Jason?

— Sim. Acho que ele já nos disse tudo que tinha pra dizer. Obrigado Túlio. Prazer em conhecê-lo — disse Jason apertando a mão do legista.

— Obrigada Túlio. Até outro dia — disse Stella sorrindo.

Os dois investigadores saíram do IML.

Ao chegarem ao carro, Stella ligou para Miriam — ela me disse que daqui a umas duas horas já vai ter os primeiros resultados — Stella disse após desligar o celular.

— Isso é ótimo. Nós vamos voltar para o D.P. para esperar?

— Eu estava prensando em ir tomar um café. Faz horas que eu não como nada.

Jason Sorriu — gostei da ideia. Uma xícara de café iria bem agora. Eu também estou com fome, e com um pouco de frio.

Stella dirigiu até uma padaria que possuía uma lanchonete em seu interior. O lugar era aconchegante, e várias mesinhas redondas com 3 cadeiras, cada uma, estavam espalhadas pelo local. As janelas possuíam cortinas de renda branca e estavam fechadas devido ao vento frio do lado de fora. Os dois escolheram uma mesa mais ao fundo debaixo de uma janela. Uma mulher usando um vestido azul—marinho com um avental branco por cima foi até eles.

— O que vocês desejam? — ela perguntou.

Stella traduziu para Jason e fez o pedido para ele — uma xícara de café para ele e uma xícara de cappuccino pra mim.

— Vão comer alguma coisa?

— Uma porção de pão de queijo, por favor — a mulher se afastou e Stella disse para Jason o que havia pedido — você não pode voltar para os Estados Unidos sem experimentar um. É uma das especialidades daqui.

— Ok! — Jason sorriu.

Depois de uns três minutos, o pedido dos dois chegou — sirva-se — ela disse pegando um pão de queijo e empurrando a tigelinha para perto do investigador.

— Muito bom — disse Jason depois de comer um — culinária local?

— Estadual. A receita é patrimônio cultural — ela respondeu sorrindo.

Jason retribuiu o sorriso e pegou mais um — você nasceu aqui? — ele perguntou antes de comer o petisco.

— Nascida e criada — ela respondeu.

— Quando você decidiu se tornar investigadora da polícia? — ele perguntou tomando um gole de seu café.

— Eu sempre fui muito curiosa. E depois de alguns filmes e seriados sobre investigação, eu conheci a profissão. Eu já estava licenciada em Ciências Biológicas quando apareceu o concurso para investigador de polícia.

— Quando você aprendeu a falar inglês? É como se fosse seu idioma.

— Obrigada — Stella ruborizou — eu estou em contato com a língua já vai fazer 17 anos, quando eu comecei a estudar tinha 8 anos. Desde então nunca parei de praticar.

— Você viaja pra colocar em prática?

— Não, com os professores do curso mesmo, fiz algumas amizades lá. E participo das atividades extracurriculares deles. E costumo conversar em inglês com os meus cachorros. O que importa pra eles é a entonação da voz mesmo — Stella disse sorrindo.

— Está explicada sua fluência — Jason comentou também sorrindo.

— Mas eu ainda tenho alguma dificuldade com o vocabulário, coisas do dia a dia.

— Isso se resolve com um pouco de prática — ele afirmou — você disse que não é muito comum vocês investigarem casos desse tipo por aqui?

— Nem os casos são comuns, nem a gente investigar.

— Como assim?

— Graças a Deus, essa cidade é suficientemente pacata. Crimes acontecem, mas não tão bárbaros e misteriosos. Normalmente o culpado é descoberto rapidamente ou se entrega — Stella tomou um gole de seu cappuccino que já ocupava apenas metade da xícara — e quanto à investigação, não há muito apoio pra gente trabalhar. Temos uma média de 750 casos por mês, e menos de 20 profissionais. E as vezes atendemos às cidades vizinhas.

— E extraoficialmente?

— Bom, às vezes eu analiso um pouco mais um caso, quando ainda tenho muitas dúvidas sobre ele.

— E os seus colegas, o Renato e a Samara ajudam você?

— Nem sempre. A gente normalmente tem muita coisa pra analisar, como eu te falei, quando sobra tempo, eles nem querem pensar em trabalho.

— E você?

— Não faço outra coisa. Eu amo meu trabalho.

— Mas mesmo em tempo livre? E se um dia acontecer de não ter nenhum caso pra investigar?

— Ou seja, quase impossível... — Stella comentou sorrindo — bom, neste caso, eu teria que ir para o cinema, navegar na internet ou ler um livro.

— Eu posso imaginar o assunto do livro ou do filme.

— É normalmente morre alguém — Stella comentou — mas algum deles as coisas são sobrenaturais demais para ter explicação lógica.

Jason sorriu com o comentário da investigadora — planos para o futuro? Você planeja continuar trabalhando aqui ou almeja ir para outro lugar?

— Ah, eu penso em tentar uma vaga para investigadora da polícia federal, mas eu preciso esperar um concurso público.

— Não estaria nos seus planos trabalhar em um distrito policial em Las Vegas? Seria bom ter uma bióloga com quem trocar ideias — Jason disse e em seguida terminou de beber o seu café. Stella olhou para o investigador com uma expressão de surpresa — vendo você trabalhando, acho que se encaixaria perfeitamente na minha equipe em Vegas.

— Jason. Seria uma honra poder trabalhar com vocês — Stella respondeu com os olhos brilhando.

— Isso é um sim?

— Considere como um quase sim — Stella sorriu — preciso conversar com meus pais. Las Vegas é um pouquinho longe.

Jason também sorriu. Ele tirou um bloco e uma caneta de seu bolso — quando você tiver uma decisão definitiva, me ligue — ele disse entregando um pedaço de papel com o seu telefone celular anotado nele.

— Ligarei em breve — ela respondeu guardando o papel no bolso do casaco. Ao fazer isso percebeu que havia uma mensagem em seu celular. Ela pegou o aparelho e leu — o advogado do Edward já chegou, vamos?

Jason terminou de beber o resto do seu café. Stella já havia terminado o cappuccino. Ambos se levantaram e após pagarem, seguiram para o carro.

— Será que podemos passar antes no hotel?

— Claro Jason — Stella respondeu já no banco do motorista colocando o cinto de segurança.

O investigador então, já dentro do carro, pegou seu celular e ligou para Sara. Em poucos minutos, eles encontraram Gregory e Sara em frente ao hotel, e os quatro seguiram juntos para a delegacia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço muito a sua visita! Deixe um comentário!

- Atenção: Ao comentar você concorda com as políticas de comentários do blog.
Saiba mais: Políticas de Comentários.

Todos os comentários são revisados antes da publicação.
Obs: Os comentários não publicados pela autora não refletem a opinião do blog.